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APÓS DOENÇA NO CACAU, BAHIA RESTRINGE ENTRADA DE VIAJANTES EM LAVOURAS

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Até então ausente no país, monilíase foi identificada em Cruzeiro do Sul, no Acre. Na Bahia, alerta em relação à praga levou à adoção de protocolos sanitários (Foto: Mapa/Divulgação)
Viajantes que chegam à Bahia de outros Estados não podem trazer sementes ou mudas de outras regiões, nem entrar em fazendas de cacau durante um mês e devem desinfetar roupas e calçados com álcool 70%. As medidas foram determinadas como protocolo de prevenção contra a chegada da monilíase do cacaueiro, praga quarentenária (requer vigilância máxima), até então ausente no país, que ataca os pés de cacau e cupuaçu, depois da identificação, em julho, de um foco isolado, em um quintal urbano no município de Cruzeiro do Sul, no Acre.
Há uma semana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) decretou emergência fitossanitária de um ano no Acre e também nos Estados vizinhos do Amazonas e Rondônia.

Além das medidas para viagem, os produtores de cacau da Bahia foram orientados a comprar mudas apenas de viveiros credenciados e avisar imediatamente a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), vinculada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), ou o Mapa caso observem a formação de pó na superfície dos frutos.
Na Bahia, que fica a 3.239 quilômetros do Acre, a chegada da monilíase ao Brasil, único país produtor da América Latina que ainda não tinha registrado a praga, acendeu um alerta vermelho. O Estado, que tem 403 mil hectares de plantação de cacau e perdeu há dois anos a liderança do ranking de maior produtor para o Pará, viu sua lavoura ser devastada na década de 90 pela vassoura da bruxa, que derrubou em até 90% a produção em algumas fazendas.
A engenheira agrônoma e fiscal agropecuária da Adab Catarina Cotrin Mattos, coordenadora do Projeto Monilíase, diz que, desde 2008, o Estado definiu ações preventivas contra a praga causada pelo fungo Moniliophthora roreri, por meio do fortalecimento das instituições para agir de forma sistêmica na prevenção, com foco na educação sanitária e monitoramento das lavouras. Com capacitação, cartilhas e vídeos, os produtores receberam treinamento para saber diferenciar a monilíase da vassoura da bruxa e da podridão parda. As três doenças causam necrose no fruto.

“O fungo que causa a monilíase tem um sistema de dispersão muito eficiente e ataca o fruto de dentro para fora em qualquer fase de desenvolvimento, embora os mais jovens sejam mais suscetíveis”, diz Catarina. Primeiro, surgem as manchas amarelas e verdes e, depois, as marrons começam a cobrir a parte de fora do fruto. Em cinco a sete dias, formam-se os esporos em grande quantidade, que se desprendem do fruto com facilidade e podem atingir outras plantas. Cada fruto contaminado produz até 7 milhões de esporos, que ficam viáveis por vários meses. No caso da vassoura de bruxa, a quantidade de esporos é bem menor e a viabilidade é de apenas 24 horas.
Catarina diz que a Bahia é ainda mais sensível ao assunto porque concentra o parque moageiro na região de Ilhéus, que processa 90% das amêndoas de cacau produzidas no país e faz divisa com oito Estados. “Publicamos uma portaria que disciplina o trânsito de material de propagação da monilíase e das amêndoas para retardar ao máximo a chegada da praga. Se a amêndoa vier do Acre, não entra.”
A coordenadora acrescenta que a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) já desenvolveu cultivares mais resistentes, que estão sendo testadas em locais onde a praga está instalada. A primeira aparição foi no Equador, mas a origem genética da monilíase é a Colômbia. “A praga tem um potencial de dano alto, tanto econômico, quanto social e ambiental. A sorte é que apareceu, por enquanto, apenas num quintal urbano de um município que não tem produção comercial de cacau ou cupuaçu.”
Pedro Magalhães Neto, da terceira geração de cacauicultores da família, tem uma fazenda em Ibirataia, comprada pelo avô em 1930. A família chegou a perder 75% da produção com a vassoura de bruxa. Hoje produz cacau fino e seu próprio chocolate de origem, o “bean to bar” (da amêndoa à barra).
Pedro diz que está se capacitando para identificar a monilíase, acredita que o contágio natural é impossível devido à distância, mas a maior preocupação é que a integração entre as cadeias produtivas aumentou muito nos últimos anos. “O produtor pode fazer muito pouco, além de aprender a reconhecer a praga e isolar os focos. Felizmente, essa praga ainda não chegou aqui e o governo estadual está fazendo um esforço grande de educação do produtor e de formação de barreiras sanitárias.”

João Tavares, produtor baiano pioneiro de cacau fino, premiado internacionalmente pela qualidade de suas amêndoas, diz que conheceu os efeitos da monilíase quando esteve no Equador, há 15 anos. “Se essa praga chegar ao sul da Bahia, na condição em que estão as lavouras atualmente, será a pá de cal na produção de cacau do Estado.”
Segundo Tavares, todas as medidas definidas até agora pelo Estado e o Mapa são importantes, mas as principais ainda não foram tomadas. A primeira, diz, é a desconstituição dos débitos gerados pelo plano da Ceplac, que endividou a maior parte dos produtores na tentativa de combater a vassoura da bruxa. “Isso até está sendo feito pela Justiça, mas num ritmo muito lento. Estamos há 20 anos sem linha de crédito para o cacau.”
A segunda medida é flexibilizar a legislação ambiental para permitir o manejo da cabruca, sistema de produção em que o cacau é plantado sob as árvores da floresta. “Hoje, é proibido retirar qualquer árvore, o que deixa o cacau sem luminosidade, muito úmido e sujeito a doenças.” A terceira medida, diz, é estimular as moageiras a construir uma planta no Acre ou Rondônia para processar primariamente as amêndoas produzidas naqueles Estados.
“Não precisa prensar, basta limpar, torrar, descartar e colocar o produto em big bags, que precisam ser higienizados para não carregar esporos da monilíase, e enviar para as indústrias de Ilhéus. Se isso não ocorrer, como a Bahia é a rota das amêndoas de todo o país, a doença vai chegar aqui e causar um desastre muito pior do que o da vassoura.”
PARÁ

Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), o Estado vem realizando desde 2012 levantamentos de detecção da monilíase em propriedades produtoras de cacau e em alguns municípios considerados rota de risco para a entrada da praga. O Ministério da Agricultura é o coordenador nacional das ações e a agência atua como executora estadual.
Em nota, o órgão informa que, nas propriedades onde são realizadas as inspeções (levantamentos de detecção), a equipe técnica explica o que é a praga, a sintomatologia e os danos que pode causar. O produtor é instruído a comunicar a uma unidade da Adepará caso haja suspeita de que algum fruto possa ter a doença para que um técnico possa fazer a averiguação “in loco”.
Elcy Gutzeit, cuja família produz cacau há 40 anos na região de Uruará, no km 143 da Transamazônica, diz que não recebeu nenhuma capacitação nem informação sobre a monilíase. “Só sabemos o que foi publicado na mídia. Estamos ouvindo que a praga é pior que a vassoura da bruxa e nos sentimos abandonados”, diz.

A fazenda dos Gutzeit tem 300 mil plantas e produz de 300 a 600 toneladas de amêndoas por ano, dependendo do clima. Segundo Elcy, nesta safra houve muitas perdas por problemas climáticos e também pela ação da vassoura. “Está sendo um ano muito ruim. Eu estimo uma queda de 60% a 70% na nossa produção.”
Francivaldo Coelho, presidente da Agroada, associação que reúne 298 produtores familiares de cacau na região de Uruará, também diz que tem pouco conhecimento sobre a praga. “Só sabemos que é uma grande ameaça à produção de cacau.”
Os produtores associados à Cooperativa Agrícola Mista de Tomé Açu (Camta), na região nordeste do Pará, também não receberam orientação nem capacitação, segundo o presidente, Alberto Opatta. “Mas, já pedimos à Ceplac um programa de capacitação para o mês de setembro.” A região tem 4.000 hectares de cacau. (Fonte: revistagloborural). Enviado pelo cacauicultor Zedequias Júnior.

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