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POR QUE TANTAS ENCHENTES ESTÃO ACONTECENDO NO BRASIL?

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Desde o mês passado, o noticiário nacional tem sido dominado por tristes histórias envolvendo enchentes e inundações. Estados como Bahia, Tocantins e Maranhão têm sofrido com esses fenômenos — o sul da Bahia passou pela pior enchente dos últimos 35 anos.
Mas o que faz uma enchente acontecer? Quais as diferenças entre enchentes, alagamentos e inundações? Para responder a essas e outras perguntas, Ecoa conversou com especialistas que estudam e atuam sobre o tema.
POR QUE ACONTECEM ENCHENTES?

É comum que aconteçam enchentes e cheias – o problema é quando os seus desdobramentos afetam cidades e outras áreas de circulação urbana, alagando-as. “As enchentes na prática são os eventos naturais dos rios. Eles sempre enchem nos períodos das chuvas e esvaziam nos períodos das secas”, esclarece o arquiteto paisagista Paulo Pellegrino, professor da FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
Desse modo, não é incomum encontrar próximo aos rios as chamadas planícies de inundação, áreas tomadas pela água quando há períodos maiores e mais intensos de chuvas. Isso seria algo corriqueiro se não houvesse construções urbanas ocupando indevidamente esse espaço.
Quando as inundações se tornam um problema? Para Pellegrino, a principal preocupação deve ser com as inundações e os alagamentos em que as águas atingem as estruturas construídas, como ruas, avenidas e edificações, causando prejuízos.
Segundo ele, as inundações são criadas pela intervenção errônea do ser humano ao ocupar áreas das cheias dos rios. “Em São Paulo, quando ocupamos as várzeas, estamos nos colocando em risco. As áreas baixas, fundos e vales são locais que naturalmente estão sujeitos a esses problemas trazidos pela lógica de como foi feita a ocupação da cidade”, completa.
Ainda tomando São Paulo como exemplo, o arquiteto paisagista lembra que a ocupação das várzeas foi feita de forma deliberada a partir de um projeto de drenagem das áreas planas. “Muito atraente para o mercado imobiliário, foi feito todo um plano que atrelou as avenidas de fundo de várzea a essas áreas de cheias das águas e ocasionou o problema que temos hoje”, aponta.
Ademais, vale lembrar que há diferentes tipos de alagamentos e inundações. Os causados por erros de planejamento humano se referem geralmente à falta de capacidade do sistema de drenagem, absorção do solo e escoamento das águas das chuvas, bem como ao rompimento de barragens e comportas. Além das inundações causadas pela cheia dos rios nas áreas de várzea, ainda existem as causadas por eventos marítimos.
COMO EVITAR AS INUNDAÇÕES NAS CIDADES?

Em parte, a solução do problema ocasionado pelas cheias dos rios nas cidades é contornada ou amenizada com a construção de piscinões. No entanto, essa válvula de escape nem sempre é suficiente.
“A chuva deveria ser absorvida onde ela cai e não ter um escoamento superficial que vai rodar pela cidade até encontrar uma válvula de escape, que às vezes é o sistema de água pluviais e outras vezes é o transbordamento”, aponta Denise Duarte, membro da Coalizão Ciência e Sociedade e professora do Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da USP.

OS ALAGAMENTOS ESTÃO MAIS FREQUENTES?

Sim, e o aquecimento global tem o seu papel nesse aumento das inundações e alagamentos, provocando chuvas mais fortes com uma maior frequência.
“O aquecimento global leva a um desbalanceamento dos eventos extremos. As temperaturas ora estão muito altas, ora estão muito baixas. Assim, temos um aumento na frequência e na intensidade das chuvas fortes, como mostram dados do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. O sistema de drenagem das cidades não é projetado para dar conta desses fenômenos”, explica Duarte para Ecoa.
“Desse modo, uma chuva histórica que acontecia a cada 30 anos passa a ocorrer a cada década. Depois, a cada 5 anos. O que era uma tragédia de tempos em tempos se torna algo recorrente por conta desse desbalanceamento climático”, completa a professora.
De acordo com informações cedidas pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), as chuvas têm se tornado mais frequentes e volumosas, gerando um número maior de alagamentos na cidade de São Paulo. O recorde foi no período de 2019/2020, no mês de fevereiro, em que foram identificadas 394 ocorrências do tipo.
“Esses números variam muito de acordo com o tipo, o volume e a frequência das chuvas. O solo encharcado e o nível mais alto das cotas dos rios e córregos, devido justamente à frequência e à quantidade de chuvas, interferem diretamente no número de alagamentos”, explicou o CGE a Ecoa.
Pellegrino lembra que a própria construção das cidades não está preparada para as precipitações mais extremas, pois se baseou em chuvas de períodos passados, antes do agravamento das mudanças climáticas. “Os projetos de drenagem são baseados em cálculos hidráulicos de séries históricas. Isso significa que são previstos para as chuvas de antigamente, mas não para essas novas possibilidades de precipitação que as mudanças climáticas estão trazendo. Estamos caminhando para um acirramento desse problema”, explica o arquiteto paisagista.
QUAIS AS SAÍDAS PARA LIDAR COM O AGRAVAMENTO DO PROBLEMA NO FUTURO?

Os especialistas entram em consenso quanto ao fato de que a permeabilidade do solo é um caminho para evitar os pontos de inundações e alagamentos nas cidades. “Temos que tornar a cidade e o tecido urbano mais amigável às águas. Como fazemos isso? Por meio da desimpermeabilização das superfícies livres da cidade. É preciso trabalhar os espaços livres, sejam ruas, calçadas, parques, canteiros, beiras de canais de rios. Eles precisam ser mais esponjosos”, aponta Pellegrino.
Ele ainda explica que essa recuperação de permeabilização deve ser feita criando espaço para vegetação, pois essa é a maneira de conviver com as águas. “Essa infraestrutura verde é a saída para que a cidade possa amenizar os problemas das inundações. Não temos que tentar barrar as águas, mas sim aprender a conviver com elas e com os processos naturais, que agora estão sendo cada vez mais extremados pelas mudanças climáticas”, defende.
Entre as saídas, Pellegrino aponta a criação de piscinões que integrem capacidades multifuncionais para a população. “Eles podem ser grandes parques hídricos adaptados a esses ciclos e fluxos das águas, funcionando como um recurso paisagístico para a cidade. Em vez de ser uma área que funcione meramente para a contenção das águas, pode ser um espaço de recreação e lazer nos períodos das vazantes”, acredita.
Para evitar acidentes em eventos de enchentes e alagamentos, o CGE disponibiliza em seu site algumas dicas sobre o que evitar e o que fazer nessas situações. (Fonte: www.uol.com.br/ecoa)

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