O AUTO-ENGANA DO SEGUNDO TURNO EM SALVADOR – Por Raul Monteiro*
.
O auto-engano é livre e permanece disponível. Mas as últimas pesquisas estão confirmando que o segundo turno em Salvador é uma quimera alimentada junto com a idéia de que a candidatura do PT à Prefeitura, porque apoiada explicitamente pelo governador Rui Costa (PT), cuja avaliação na cidade é muito boa, chegaria arrasando nas intenções de voto. A onda não dobrou, assim como a tropa com que o governo se armou no esforço de levar a disputa para dois turnos, sem o mesmo apoio que ele empresta à petista, não consegue ajudar em nada na execução da tarefa.
O resultado é um crescimento da candidata petista, Denice Santiago, muito aquém do estimado, contra as expectativas mais racionais, pelos próceres do otimismo petista. Com efeito, Denice é hoje a segunda colocada na disputa, mas está muito distante do favorito Bruno Reis (DEM), candidato do prefeito ACM Neto (DEM), cujo prestígio, em se tratando da disputa eleitoral, se mostra muito superior ao do governador na cidade. Além disso, ela cresceu desbancando o folclórico Pastor Sargento Isidório, do Avante, que chegou, no princípio, a ser avaliado como candidato do grupo pela elite populista da esquerda local.
Isidório não desidrata por causa da aliança com o PSD da família Coronel, que tentou, sem muito sucessso, readequar o surrado figurino de “doido” de que sempre se utilizou para disputar, com sucesso, seguidas eleições proporcionais, mas apesar dos ajustes promovidos por ela, insuficientes, no entanto, para torná-lo palatável aos olhos da grande massa de eleitores. Sem o mesmo apoio que Denice, a candidata do PCdoB, Olívia Santana, mostra que tem de fato, conforme sua propaganda eleitoral, alguma farinha no saco, mas também que ela já foi em parte consumida.
Por este motivo, seus programas têm priorizado os ataques à candidata petista, num processo de autofagia pelo segundo lugar disputado mais como um ponto de honra junto ao eleitorado de esquerda do que propriamente como condição para ser o pólo da disputa do segundo turno com o democrata que, não importa o discurso público em contrário, a maioria vai se convencendo de que não virá, numa situação política de renúncia psicológica até melancólica. Natural que, nesta etapa da quadra, a atribuição de responsabilidades, ou de culpa, assuma papel predominante nas discussões no grupo de Rui.
E que a maioria das queixas se dirija à figura do governador, apontado pela quase totalidade dos aliados como o verdadeiro criador da estratégia que os levou a todos para essa espécie de beco sem saída. Não é por outro motivo que, faltando pouco mais de uma semana para as eleições, as atenções se voltem mais para o tipo de ajuste que o gestor fará em seu governo para contemplar os partidos que concordaram em que ele liderasse os planos para a sucessão em Salvador. Todos, naturalmente, esperando que a eleição passe logo e que, melhor que tudo, o arranjo seja qualitativamente muito melhor do que o montado para as eleições.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
.
Comentários estão fechados.