RACISMO NOSSO DE CADA DIA! – Pelo Prof. ZENILDO SANTOS SILVA-ZOOM
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Fannon, em seu célebre livro “Peles negras, máscaras brancas” faz a seguinte provocação filosófica: o que querem os negros? A princípio é uma pergunta simples, mas no contexto da obra há um leque de reflexões. Inicialmente o autor responde que os negros desejam ou querem ser humanos, e socialmente a visão de humanidade é representada por valores, moda, princípios, religião, cultura dos “brancos”, ou seja, os negros desejam ser brancos. Quando o autor fala desse ideal de branco, ele não quer dizer que nós negros queremos ser brancos, mas que o modelo de sociedade que nos é apresentado como primordial é o europeu, e inconscientemente queremos ser aceitos, logo “brancos”.
Quantos de nós crescemos acreditando que nossos cabelos crespos eram horríveis, a tal ponto de imitar o modelo ditado pela moda. Nossas mães que o digam, quanto sofreram com as chapinhas e pentes finos? Em que momento das nossas vidas assistimos nos filmes e novelas protagonistas negros? Aconteceram, mas raríssimas vezes. Quem eram as paquitas da Xuxa, porque todas brancas e loiras? Quanta distância da nossa realidade. Como uma pessoa que cresce vendo e assistindo tudo isso irá se autovisualizar?
O que dizer de casos apresentados na mídia todos os dias: jogadores que são chamados de macaco, críticas a jornalista Maju, levando em seus traços identitários, como se o negro fosse sinônimo de incompetência. Fora outras situações diárias, de discriminação em elevadores, aeroportos, entrevistas de emprego, comentários em postagens de negros e olhares de um racismo velado e institucional.
Os nossos filhos e netos certamente não viverão o que vivemos, pois acreditamos de fato que as coisas mudarão, já não cabe em pleno século XXI atitudes racistas. E como diz uma grande filósofa negra americana, Angela Dawis, não adianta falarmos que não somos racistas, é preciso agir com práticas antirracistas, ou seja, não permitir em nenhum espaço que brincadeiras discriminatórias continuem acontecendo.
(ZENILDO SANTOS SILVA, Bacharel em Psicologia, Psicopedagogo e Mestrando pela UFSB em Ensino e Relações Étnicos Raciais)
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