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‘TERMINEI MEU CASAMENTO E FIQUEI COM UMA MULHER QUE CONHECI NA LUA DE MEL’

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“Tenho uma história de vida que foge do convencional: fui adotada, enfrentei dificuldades financeiras na infância e cheguei a passar fome. Aos 17 anos, me apaixonei por uma mulher com a classe social muito diferente da minha. Ficamos mais de uma década juntas.
Com o passar do tempo, nossa relação foi ficando cada vez mais conturbada, mas ainda assim decidimos nos casar. Meses depois, optei por me separar e comecei um romance com outra pessoa — que havia conhecido na piscina do hotel onde passei minha lua de mel.
“POR CAUSA DE AMOR, CONHECI UM MUNDO DIFERENTE”

Suzanna já foi empacotadora de mercadorias e hoje é comissária de bordo

Meu começo de vida foi atribulado. Semanas depois de nascer, fui internada em um hospital por desnutrição. A mulher que me gerou, muito humilde, intercalava entre viver pelas ruas e se hospedar em casas de parentes. Ela não me amamentava e nem substituía o aleitamento adequadamente, por isso não me desenvolvia conforme o esperado. Tive problemas de saúde e passei semanas hospitalizada.
Percebendo a situação, uma das auxiliares de enfermagem do local, que era solteira, conversou com a minha mãe biológica e, com o seu consentimento, decidiu me adotar. Desde então, fez de tudo por mim: mesmo exercendo a maternidade solo, tinha três empregos para manter a casa. Ela contava com a ajuda da minha vó, que estava sempre por perto. Ela nunca me escondeu que não era sua filha biológica.
Quando eu tinha 7 anos, minha mãe engravidou de surpresa e se casou. Meu padrasto também era uma boa pessoa, sempre muito correto. Infelizmente, poucos anos depois do nascimento do meu irmão, minha mãe ficou desempregada e ali a nossa situação se apertou.
Chegamos a passar necessidade, sem dinheiro para a comida. Durante cinco anos, questão financeira continuou bastante delicada. Até que ela conseguiu retornar ao trabalho e voltamos a nos estabilizar. Para ajudar, com 15 anos, comecei a trabalhar como empacotadora de mercadorias no caixa de um supermercado.
Aos 18, ingressei em uma faculdade particular de enfermagem que ficava em outra cidade e fui morar sozinha. Minha mãe pagava com dificuldade as mensalidades e eu trabalhava em uma loja do shopping para me bancar. O dinheiro não dava para quase nada.
Logo no primeiro mês, conheci uma menina no ônibus que fazia o caminho da faculdade e nos apaixonamos. Quando ela me apresentou para a família, no entanto, começaram os nossos problemas.
Nossa condição social era gritantemente diferente. Graças a ela, tive acesso a um mundo que não conhecia. Porém, na sua família, havia pessoas preconceituosas e passei a ser alvo de racismo.
Se estava sentada em algum lugar da mesa, pediam para que eu saísse, para que outra pessoa pudesse ocupar meu lugar. Nas refeições, serviam filé mignon para os filhos e frango ou porco para mim e para a funcionária que trabalhava na casa. Se íamos para a praia, me incentivavam a ficar debaixo do guarda-sol, porque “daquele jeito já estava bom”, se referindo a cor da minha pele.
“SENTIA O TEMPO TODO, QUE ESTAVA EM DÉBITO COM ELES”

Suzanna e mãe, que a adotou quando estava no hospital

No terceiro ano de faculdade, a mensalidade aumentou demais. Eu não teria condições de continuar a cursar. Com isso, minha então namorada me convidou para que fôssemos morar juntas, mas o local ficava no quintal da casa dos seus pais. Foi um dos anos mais difíceis da minha vida.
Percebendo tanto preconceito por parte deles, um dos meus maiores medos era o de que conhecessem a minha mãe: uma preta retinta. Não sabia o que poderia acontecer. De fato, depois de a verem pela primeira vez, colocaram minhas coisas em um saco e pediram para que eu saísse.
Minha namorada comprou a briga e nos mudamos para um apartamento que era da tia dela. Passamos sete anos ali. Nesse meio tempo, ela me convidou para ajudar a gerenciar os funcionários da empresa da qual seus pais eram donos. Aceitei, já que o salário era maior. Lá, eu trabalhava muito, inclusive ajudando no preparo dos alimentos. Sentia que estava em débito com ela e com sua família.
Estava focada em me formar e, por ser uma boa aluna, consegui um estágio na CTI de um grande hospital no último ano de faculdade. Passei um ano e meio intercalando entre essas duas atividades. Deixava meus salários para que ela administrasse, pois achava que era o certo a se fazer.
Depois de me formar, não segurei o tranco da rotina e pedi demissão do hospital. Se dizia que estávamos gastando muito, isso virava motivo de grandes discussões. Ela não se interessava por sair do local onde nós morávamos, adquirir um imóvel próprio. Era dependente dos pais, gastava demais com a empresa e chegou a fazer empréstimos para continuar mantendo seu padrão de vida.
Irritada pela falta de ambição, eu anunciei que queria terminar a relação. Diante disso, ela chorou e prometeu que mudaria. Na prática, quase nada mudou. Mas, percebendo que estávamos passando por uma crise, ela decidiu me pedir em casamento e eu aceitei.
Fizemos uma festa, mas nem ali sua família me deu trégua. Vestida de noiva, escutei um convidado dizendo que “com classes tão diferentes não tinha como dar certo”, enquanto olhava para minha mãe.
“CONHECI O PIVÔ DA MINHA SEPARAÇÃO DURANTE A LUA DE MEL”

Suzanna em Miami, durante a viagem de lua de mel

A união aconteceu na correria e já estávamos com uma viagem para Miami, nos EUA, combinada para dali a algumas semanas. Inicialmente, não era para ser uma lua de mel, mas acabou sendo. Mesmo curtindo a viagem, me sentia infeliz e questionava se havia tomado a decisão certa.
Foi nesse contexto que conheci, na piscina do hotel onde nos hospedamos, uma norueguesa. Ela se aproximou e percebi que me olhava bastante, mas eu não sabia falar inglês bem, por isso trocamos poucas palavras. Nunca traí minha ex-mulher. Não passei para ela meu telefone, nem nos adicionamos nas redes sociais.
No entanto, assim que desci do avião, vi uma notificação dela no Instagram: ela guardou meu sobrenome, procurou e me achou. Começamos a conversar e, pouco a pouco, fomos estreitando os laços. Cinco meses depois de me casar, anunciei que queria a separação. Creio que uma força maior agiu para que pudesse me libertar de toda aquela situação.
Saí da relação sem casa, com pouco dinheiro e sem emprego. Tive que voltar a morar com a minha mãe, no interior, e pensei que fosse enlouquecer. Três meses depois, a norueguesa veio para o Brasil e passamos um mês juntas. Depois, ela teve que voltar para o seu país e me chamou para ir junto.
Mais animada depois de viver aquele amor, percebi que a vida estava me colocando novamente na mesma situação:

Se eu fosse, estaria dependente financeiramente mais uma vez de outra pessoa, porque levaria pelo menos um ano até que conseguisse regularizar minha situação e começar a trabalhar no novo país. Com o coração partido, tive que negar a proposta.
Era hora de tomar novamente as rédeas da minha história. Ainda nos falamos, mas não estamos mais juntas.
Como nunca fui apaixonada por enfermagem, abandonei de vez a área e decidi investir o dinheiro que havia sobrado em um curso de cinco meses, para ser comissária de bordo. Assim que terminei, consegui um emprego.
Hoje, morando sozinha, sinto que sou muito mais feliz. Não preciso me submeter a nada e só sinto vontade de estar com alguém sabendo que tenho condições totais de embarcar na relação” * Suzanna Luiz tem 33 anos, é comissária de bordo e mora em Ribeirão Preto (SP). (Fonte: uol.com.br/universa)

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