WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia

JURISTAS POLÍTICOS – Por André Gustavo Stumpf

.

A mais substancial e surpreendente mudança de posição assumida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal será julgada pela história. Argumentos jurídicos não serão suficientes para justificar o que foi dito e escrito em favor da condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Nem para anular tudo o que havia sido feito antes pelo próprio STF, pela justiça federal no Rio Grande do Sul e pelo STJ. Todos se inclinaram numa direção e posteriormente se voltaram para o caminho oposto. Ou estavam errados antes ou estão errados agora.
O fato é que, de maneira inusual, os ministros da mais alta corte brasileira se envolveram profundamente na política nacional. Primeiro pela anulação dos julgamentos de Lula, depois pela inesperada declaração de que o juiz Sérgio Moro fora parcial na apreciação dos feitos.

O ex-juiz, contudo, não julgou solitariamente os processos. Ao contrário, eles tramitaram por diversas fases, por diversas mãos, em diversas instâncias. De repente, não mais que de repente, fez-se tábula rasa de tudo o que havia sido dito e escrito.
Este estranho desenrolar dos acontecimentos criou o atual ambiente eleitoral no país. De um lado, Lula colocado em liberdade, sem ter sido absolvido, retornou ao combate com sangue nos olhos. Ele clama por vingança. Iniciou sua caminhada em direção ao Palácio do Planalto pelas principais capitais da Europa.
Já planeja um périplo pelos Estados Unidos, depois de ser recebido na Casa Rosada, em Buenos Aires. Os ventos do exterior podem ajudar a cauterizar as feridas internas e promover o esquecimento das aberrações jurídico-eleitorais ocorridas no país.
No lado oposto, Sergio Moro é algoz e vítima ao mesmo tempo. Ele promoveu com sua equipe em Curitiba o mais eficaz, eficiente e feroz ataque à corrupção no Brasil. Colocou muita gente na cadeia. Gente graúda. Colarinho branco. Gente que abriu o jogo, delatou companheiros, colegas, chefes, políticos e mais que tudo, gente que devolveu milhões de dólares para ressarcir o desviado.

Houve sentenciados em vários níveis e escalões. Todos, contudo, estão sendo beneficiados pelas decisões dos excelentíssimos ministros do STF. Não vale a pena citar nomes, mas tesoureiros de partidos, políticos, pessoal que enriqueceu da noite para o dia, que mantinha contas no exterior, todos estão sendo beneficiados. Não há escândalo porque os processos resultam de decisão judicial da mais alta corte do país. Tudo legal, portanto.
Este é o quadro eleitoral. Lula inocentado por consequência de erros processuais, Sérgio Moro, algoz e vítima, e o presidente Jair Bolsonaro, que para sobreviver à fracassada tentativa de golpe do último Sete de Setembro, se jogou nos braços do centrão. Entregou os anéis.
Os experientes políticos tomaram conta do cofre, criaram o também esdrúxulo orçamento secreto, acabaram com a tramitação da PEC da prisão em segunda instância, destruíram o teto de gastos e fracionaram a PEC que dá calote nos precatórios, para aprová-la de maneira parcelada.
Na história do parlamento brasileiro jamais um texto legal foi promulgado por etapas. Ou é aprovado ou rejeitado. Não há o meio termo. A coluna do meio no processo legislativo foi inventada neste final de 2021.
É muito difícil ganhar uma eleição contra o presidente da República. Ele tem a máquina na mão. Possui agências do Banco do Brasil e Caixa Econômica em todos os quadrantes do país. Fontes de financiamento, secretas ou não, à disposição em vários níveis da federação. Empresas estatais oferecem vantagens, empregos e outros benefícios.
A chance dos opositores está na desorganização do atual governo. Bolsonaro diz o que lhe vem à cabeça. Age como adolescente. É a chance dos outros candidatos, como João Dória, que faz um governo consistente em São Paulo e possui um eficiente sistema de divulgação de suas realizações. Já Ciro Gomes parece assustado com tantas novidades.
O cenário é este. Difícil prever que o atual presidente não chegará ao segundo turno. Se acontecer, será por obra de suas próprias inconsistências e das naturais disputas de poder nos estados. Lula caminha com o apoio da máquina sindicalista. Dória com respaldo de parte da riqueza de São Paulo. Moro com base na sua incrível história.
Os demais terão que construir a narrativa e o perfil próprio para entrarem na disputa com alguma chance. Isso se os tribunais não decidirem, de novo, se envolver na política partidária e modificar os rumos da eleição de 2022. (Fonte: Metropoles. Fotos: blogdozebrao).

.

Comentários estão fechados.