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O INVERNO DE BOLSONARO ESTÁ CHEGANDO – Por Malu Gaspar

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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro dedica seus dias a incendiar o clima político no país, trabalhando com denodo para assombrar as eleições e ameaçar um golpe, outra ameaça bem mais grave paira sobre seu governo — e a essa, ele não tem a menor ideia de como reagir.
No mercado, na Petrobras e provavelmente no Ministério de Minas e Energia, o cenário mais provável no segundo semestre para os combustíveis é uma nova escalada de preços e, no limite, até desabastecimento.
Os dados de oferta e demanda mostram que já existe hoje um déficit de 2% no fornecimento de petróleo e derivados no mundo, que por enquanto só tende a aumentar. O endurecimento das sanções econômicas derivadas da guerra na Ucrânia, com grandes consumidores europeus substituindo o combustível russo pelo de outros países, contribui para essa projeção.
A volta à normalidade da economia chinesa após o lockdown, mesmo que gradual, também deverá aumentar o consumo de energia e pressionar os preços. A depender da duração da crise, a escassez poderá avançar pelo inverno europeu, o que tampouco ajuda a situação a se normalizar.
Considerando que os preços do diesel, do gás e da gasolina já estão em valores recordes, o que veremos na economia global nos próximos meses não é nada bonito. Alguns economistas com quem conversei não hesitam em equiparar o momento atual aos grandes choques do passado.
“Eu trabalho com isso há 16 anos e poucas vezes vi uma situação tão aguda de desequilíbrio entre oferta e demanda”, afirma Bruno Cordeiro, sócio gestor da Kapitalo Investimentos, umas das mais tradicionais em ativos ligados aos mercados internacionais de commodities.

E não é só o petróleo. Trigo e soja, que já estão em alta, deverão continuar subindo.
Além de mais inflação, o risco de desabastecimento não é desprezível. Quando falta petróleo no mundo, quem paga mais vai para a frente da fila, e quem não tem dinheiro fica esperando para pegar o que sobra. É essa, portanto, a crise com que Bolsonaro deveria estar se preocupando, não com urnas eletrônicas e salas secretas que não existem.
Mesmo que haja algum alívio nas previsões, é dever do presidente e de seus ministros garantir a segurança alimentar e o bem-estar da população. É o que Bolsonaro finge que está tentando, ao demitir o ministro de Minas e Energia e arquitetar trocas na diretoria da Petrobras.
A questão é: para fazer o quê? Falar que é para privatizar a companhia não vale. Todos sabemos que, por enquanto, essa privatização da Petrobras é como os 40 milhões de testes de Covid-19 do amigo inglês de Paulo Guedes: não tem a menor chance de se materializar neste mandato.

O fato concreto é que Bolsonaro já demitiu dois presidentes da Petrobras no último ano e não conseguiu, até agora, produzir nenhuma solução para amenizar os efeitos da alta dos combustíveis.
Cortar impostos não adiantou. Mexer no modelo de paridade com o mercado internacional, alterando a fórmula de cálculo dos preços, pode levar ainda mais rápido ao desabastecimento. Cerca de 27% do diesel e 15% da gasolina consumidos no país são importados, e nenhum empresário traria produto do exterior para vender com prejuízo.
Outra alternativa, o subsídio, vem sendo constantemente rechaçada pelo governo. Abrir espaço fiscal para isso sem furar o teto de gastos poderia exigir o corte de um bom naco do orçamento secreto — algo que Bolsonaro não tem coragem nem condições políticas de fazer.
Como se vê, é um problema complexo demais para um presidente apegado a soluções simplórias.
Bolsonaro claramente não está conseguindo lidar com o fato de que não basta distribuir berros ao microfone e humilhar almirante e general para os preços caírem. Ele sente que o que pode implodir suas chances de reeleição são os combustíveis, não as urnas eletrônicas.
Por não saber enfrentar o perigo verdadeiro, fomenta riscos que não existem e ameaça implodir a democracia, a pretexto de combatê-los. Para usar a expressão popularizada por uma conhecida série de TV, Bolsonaro parece intuir que “o inverno está chegando”. E aposta que sua melhor chance de vitória é destruir os reinos inimigos, antes que o seu se torne frágil demais. (Fonte: O Globo)


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