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A DEMOLIÇÃO COMO PROJETO – Por Mirian Leitão

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Na semana em que a economia colheu dois bons números, queda do desemprego e crescimento do PIB no primeiro trimestre, o governo chegou a pensar em decretar estado de calamidade. Só isso mostra como esta administração é completamente perdida, em todas as áreas, inclusive na economia.
O governo roda em círculos. A ideia de apresentar uma PEC para criar subsídios de combustíveis surgiu em janeiro e reapareceu agora, seis meses depois. A ideia de aumentar apenas o vale-alimentação dos servidores foi ventilada em fevereiro e ressurgiu na semana passada.
O governo Bolsonaro não governa, improvisa. Não é capaz de se antecipar aos problemas, muitas vezes porque os nega. Na equipe econômica, a aposta era que no Brasil não haveria pandemia por ser um país “fechado comercialmente”.
Eu mesma ouvi isso de uma autoridade no dia 5 de março de 2020. A pandemia já estava entre nós. Quem não vê o que vai acontecer não se antecipa às crises, não sabe administrar coisa alguma.
Todas as crises crescem quando este governo entra em ação.
Normalmente tem que ser o contrário. Governos existem para reduzir o tamanho das crises ou resolvê-las. Na pandemia, o presidente aumentou a gravidade do problema —e da letalidade —ao se comportar daquela forma deplorável. Isso elevou o custo econômico e em vidas humanas.
A equipe econômica foi empurrada a agir pelo Congresso e pela opinião pública, tanto na criação do auxílio emergencial quanto no socorro às empresas. O Pronampe que ajudou tantas pequenas empresas nasceu de iniciativa do Congresso.
Na crise dos combustíveis é a mesma coisa. O governo improvisa, sem olhar qualquer efeito colateral que tenham as medidas que defende ou impõe. Tudo piorou agora porque ao improviso se soma a pressa de atingir resultados eleitorais.
Assim cresce a conta que vai ser paga no ano que vem e nos seguintes. A redução do ICMS de combustíveis está sendo imposta para tentar resolver um problema conjuntural, mas está contratando crises futuras ao reduzir o financiamento da educação.

O governo pensa em criar subsídios para conter a alta dos combustíveis, especialmente do diesel. O problema é que subsidiar estimula o consumo. Velha lei econômica. Nesse caso, será de um produto cujo risco de escassez assombra até a Petrobras.
A carta enviada pelo presidente da Petrobras ao diretor-geral da ANP alerta para a gravidade do momento no abastecimento de diesel. Segundo José Mauro Ferreira Coelho, 30% do óleo consumido no Brasil em 2021 foi importado. As refinarias da empresa já estão operando em sua capacidade máxima e há um cronograma de paradas para manutenção nos próximos meses.
No cenário internacional, os Estados Unidos, que são os maiores exportadores para o Brasil, vão entrar no período em que há grande incidência de furacões nas regiões produtoras, o que pode diminuir sua capacidade de refino. Há o embargo ao petróleo e derivados da Rússia e no segundo semestre o Brasil aumenta o seu consumo do combustível por causa das colheitas das principais safras agrícolas.
A crise dos combustíveis é muito anterior à guerra da Ucrânia. A greve dos caminhoneiros acabou de completar quatro anos. A demissão do ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco, por seguir a paridade internacional, aconteceu em fevereiro de 2021.
Tempo houve de sobra para que o governo pensasse em soluções para momentos de alta forte do preço dos combustíveis. Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, de 2019, mostrou que a idade média dos caminhões no Brasil passa de 15 anos. Há veículos que consomem dois litros de diesel por quilômetro rodado, contra dez quilômetros dos caminhões mais novos.
O governo Bolsonaro custa muito caro ao país. Em todas as áreas. Bolsonaro atacou a Amazônia, os indígenas, os negros, as mulheres, a educação, a saúde, as vacinas, o processo eleitoral. Sobretudo, ele atacou o pacto civilizatório que o Brasil fez ao fim da longa dor política que foi a ditadura dos militares. Ele não tinha projeto de gestão, porque não veio para construir.
Bolsonaro foi sincero certa vez. Foi quando, em Washington, em março de 2019, disse: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa, desfazer muita coisa.” Ele tem se dedicado a esse projeto de demolição. (Fonte: O Globo)


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