POR QUE MINAS NÃO TEM CACAU? ENTENDA O QUE DIFICULTA A PRODUÇÃO DA FRUTA
.
A boa notícia é que e espécie de cacau nativo já está adaptada à biodiversidade do Estado, o que minimiza o risco de doenças
Com a proximidade da Páscoa, é impossível não pensar em chocolate e, por tabela, no cacau. Mas porque será que, com tanta vocação para o cultivo da terra, Minas praticamente não produz essa fruta?
Deny Sanábio, coordenador de fruticultura da Emater-MG, explica que o fator limitante para a produção de cacau por aqui é o clima.
“O cacaueiro é uma planta perene, arbórea e que se desenvolve bem em matas fechadas; é das poucas que produz e tolera bem o sombreamento. Porém, o clima ideal para essa cultura, deve ser quente e úmido. As temperaturas médias, ao longo do ano, devem variar entre de 23 a 25 graus, numa altitude de zero até mil metros acima do nível do mar e temos poucas regiões com essas características”.

AUSÊNCIA DE ZONEAMENTO AGRÍCOLA
Outro fator de dificuldade é que não existe Zoneamento Agrícola pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para o cultivo de cacau no Estado, o que dificulta no caso do produtor precisar de financiamento para viabilizar a lavoura. Sem o zoneamento, o empreendimento pode ser considerado de risco para os agentes bancários.
PRODUÇÃO, AINDA QUE PEQUENA, SEMPRE EXISTIU
Não é de hoje que o cacau está presente no Vale do Jequitinhonha. Os principais municípios produtores são Almenara, Mata Verde, Jordânia e Bandeira. Em Bandeira, há registros dos pés do fruto há mais de 50 anos. Mas os plantios comerciais são mais recentes, há cerca de 20 anos.
O município conta até com a Associação dos Produtores de Cacau de Bandeira (Asprocab).
QUILOMBO PRODUZ HÁ 120 ANOS
Já em Almenara, os cacaueiros estão concentrados no Quilombo Marobá dos Teixeiras.
Eles são cultivados há mais de 120 anos no sistema conhecido como cabruca, um tipo de manejo agroflorestal cujos pés de cacau estão integrados à mata nativa, o que traz várias vantagens, como a preservação da mata ciliar e das nascentes, a infiltração de água no solo, o controle da biodiversidade e a manutenção da fauna e flora locais.
De acordo com Deny Sanábio, 95% do cacau mineiro é produzido em matas, ocupando uma área de mais de 100 hectares.

PRODUÇÃO TEM PARTICULARIDADES
Porém, a produção mineira tem suas particularidades. O plantio a pleno sol, ou seja, em áreas preparadas unicamente ao cultivo do cacau, está sendo desenvolvido em caráter experimental.
Sua principal vantagem é ampliar a produtividade por área plantada. Deny relata que, até o momento, as plantas que se adaptaram a essa técnica de cultivo (as espécies nativas não servem para isso) deram uma boa resposta, mas depois ficaram doentes.
Outro ponto positivo é que essa espécie de cacau nativo já está adaptada à biodiversidade do Estado, o que minimiza o risco de doenças.
É um cenário diferente ao encontrado na Bahia, que cultiva predominantemente espécies híbridas, onde um melhoramento genético produziu plantas mais resistente à Vassoura de Bruxa, fungo que afetou drasticamente a produção na região durante a década de 1990.
Segundo Deny, com o melhoramento genético, a doença pode até atingir a planta, mas não a mata.
MANEJO É SIMPLES
O coordenador de fruticultura explica que o manejo do cacau nas matas é bem mais simples, podendo ser comparado quase a um extrativismo. Muitas vezes, a adubação nem é utilizada.
Mas para alcançar uma maior produtividade, isso é necessário. Como nesse meio o solo é mais úmido, a água da chuva infiltra e fica retida por ali, em muitos casos não é preciso irrigar.
Muitas vezes a adubação nem é utilizada. Também não é necessária a pulverização contra pragas ou doenças, no máximo controles alternativos, como o uso de óleos de outras plantas.

DOCE DE CACAU É VENDIDO NAS FEIRAS
A venda de cacau pelos produtores do Vale do Jequitinhonha ainda é tímida. Com uma produção de cerca de 270 quilos por hectare, eles vendem a castanha da fruta para atravessadores. Alguns produtores também fazem doce de cacau e vendem nas feiras da região.
RESUMINDO
O cacau é uma cultura de clima tropical, que se desenvolve bem onde tem calor eumidade, motivo pelo qual se adaptou tão bem à Região Nordeste de Minas Gerais.
A colheita é prolongada, com frutos verdes, maduros e pós-flor, podendo durar até por quatro meses.
Há registros de produção de cacau (em menor escala ainda) no Sul de Minas Gerais.
Estar longe dos centros em que o processamento do cacau é feito também desestimula os produtores rurais. (Fonte: www.itatiaia.com.br)
.
Comentários estão fechados.