WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O MERCADO DE CACAU

.


Todos que trabalham no mercado de cacau sabem o quanto especulativo ele é. O pesquisador da Ceplac Mário Amim Garcia Herreros, publicou um trabalho muito importante com essa temática, revelando que, proporcionalmente, 66% dos preços cotados na Bolsa de New York eram decorrentes do sistema especulativo. Portanto, considero muito arriscado “cravar” que vai acontecer isso ou aquilo com o preço em tanto tempo (pior fica se esse tempo é longo; mais de três anos), essa é uma das commodities mais sensíveis aos palpites.
ENTÃO O QUE SOBRA?
Pouca coisa, mas muito importante: o clima, os tratos culturais aplicados na lavoura a cada ano, os estoques internacionais nas mãos das moageiras, a oferta e a demanda.
Numa análise, recentíssima, feita pelo líder de commodities da ING Think, Warrem Patterson, informa que os preços atuais, extremamente elevados, só permanecerão assim, caso os déficits de oferta continuem (esse ano será registrado o terceiro ano seguido de déficit), ou seja: quanto maiores forem as incertezas sobre a produção de cacau, maiores são as chances dos preços continuarem com esse movimento. É claro que os olhos do mundo estão sobre as informações vindas da Costa do Marfim e Gana (juntos ofertam 58% da produção mundial)


Uma guerra surda está sendo travada por aqueles que tem cacau físico (fixam seus preços com mais antecedência), com os que trabalham na entrega futura, que buscam fontes alternativas de fornecimento de matéria prima, objetivando cumprir as suas obrigações contratuais (ponto de honra num mercado como o de cacau).
Afirma Warren que, “A questão chave, e a mais difícil, é até que ponto os preços do cacau podem subir? Segundo o analista, precisará atingir um determinado nível onde possa vir a ser visualizado uma queda na demanda de amêndoas. Já estamos vendo um pouco disso, mas claramente não o suficiente para trazer o mercado de volta ao equilíbrio e aliviar as preocupações com a rigidez.”
O clima na África não tem sido “companheiro” para uma boa produção. No ano de 2023 as chuvas foram mais intensas do que o normal, o que foi motivo de preocupações sobre o impacto que teriam nas lavouras, haja vista a sua relação direta com o aumento dos casos de podridão negra nos frutos.
Para o ano em curso, já é a seca e os ventos que vêm do deserto do Saara (Harmattan) que trazem preocupações sobre o comportamento das colheitas.
A análise feita por Warren chega a ser catastrófica em relação as expectativas de produção para a Costa do Marfim e Gana. Diz o autor que das 2,18 milhões de toneladas de cacau produzidas na safra 22/23, para a safra 23/24 as expectativas são de que a colheita não ultrapasse 1,75 milhões de toneladas e, estima que as perdas de produção em Gana alcançarão 25% (cerca de 225 mil toneladas).


Somente esses dois países revelam que as perdas seriam equivalentes a cerca de 11% da procura global; uma “fatia” nada desprezível, a conferir.
Outra variável muito importante na regulação dos preços são os estoques nos armazéns das processadoras. Considerando os últimos deficits na produção, as análises apontam para estoques mais baixos desde a safra 2015/16.
A ICCO (Organização Internacional do Cacau), haja vista a perspetiva de uma perda de produção ao redor de 400 mil toneladas, poucas são as dúvidas de que essa queda de produção ocorrerá, a apreensão está se realmente atingirá as 400 mil toneladas, pois a safra 2024/25, certamente, será afetada, mobilizando mais especulações aos preços futuros.
Nesse caso, O regulador do cacau na Costa do Marfim suspendeu, preventivamente, as vendas futuras da safra 2024/25 até que se tenha mais claro o comportamento da safra atual.
Finalmente, com relação à demanda de amêndoas de cacau e a sua ação sobre os preços, Warren é pontual:
Sem dúvida que os preços mais altos em 2023 levaram a uma diminuição da procura. Contudo, sem a necessária suficiência para dar um tom de equilíbrio no mercado, indicando que serão necessários preços ainda um pouco maiores para que essa retração substancial na demanda ocorra; o que parece estar acontecendo nesse início de ano.


Talvez seja pela posição do continente maior consumidor de cacau (a Europa) que teve uma diminuição de apenas 2% nas suas moagens (por possuírem renda per capita alta, têm mais “cafice” para continuar bancando chocolates mais caros), contra 9% na América do Norte e 5% na Ásia, quando se contrastam os dados do ano anterior.
Termino como comecei: nesse mundo especulativo, sigamos a orientação de nossos avós – Prudência e caldo de galinha não fazem mal para ninguém.
Esse é um momento muito oportuno para que o produtor ganhe mais (cuidado com a ganância). Trabalhar na linha da eficiência econômica é o caminho, ou seja: produzir mais com custos unitários cada vez menores. O que é igual a produtividade líquida cada vez maior, traduzindo: cuidar cada vez melhor das lavouras conduz a ganhos maiores.
Ninguém deve esquecer que em cada fruto perdido (por qualquer que seja a causa), isso é o equivalente a, aproximadamente, 40 gramas de amêndoas secas não contabilizadas na receita. Num ambiente de mercado aonde o quilo (cerca de 1000 amêndoas) já bateu os R$ 30,00, tal desperdício pode ser um precipício.
(Fernando Antonio Teixeira Mendes é Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal Rural da Amazônia, em 1979; Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará, e tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Economia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: Amazônia, cacau, Sistema Agroflorestal)

.

Comentários estão fechados.