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ESTAMOS INICIANDO O PERÍODO DE MAIORES OPORTUNIDADES DA LAVOURA CACAUEIRA SUL BAIANA: “SAIBAMOS APROVEITAR” – Pelo Dr. Durval Libânio Netto Mello

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Ontem, dia 26 de março do ano de 2024, o Cacau atingiu mais uma vez um recorde histórico, sendo cotado a aproximadamente US$ 10.000 (dez mil dólares) a tonelada métrica na bolsa de Nova York. Para muitos a sensação de que “voltemos aos velhos tempos” onde com 100 arrobas se comprava um veículo novo, na década de 70 e 80, está de volta, e realmente o valor de troca ainda que não atinja a relação de compra para certos itens de consumo de outrora, é extremamente significativa, fazendo com que a cacauicultura seja hoje a atividade mais rentável no agronegócio brasileiro e um dos melhores investimentos em nível geral.
Nesse contexto apesar das agruras da falta de políticas públicas adequadas, dívidas e baixa produtividade, na minha opinião temos muito a comemorar, pois no período de crise que vivenciamos avançamos significativa em áreas que na década de 70 e 80 do século passado nem sonhávamos que pudessem ser uma realidade.
Vivemos uma outra realidade em relação ao setor industrial e de serviços, possibilitada pela expansão urbana e aumento do poder de consumo, associada ao desenvolvimento econômico e tecnológico e o alcance de uma economia de escala em muitas áreas, que possibilitou que a sociedade como um todo aumentasse o seu poder de consumo e o acesso a bens e serviços que em épocas passadas nem sequer existiam.
No caso da cacauicultura brasileira o resultado desse avanço resultou no fato do Brasil ser o único país do mundo onde se tem produção de cacau e consumo de chocolate de forma significativa, nenhum outro país do mundo tem toda a cadeia de valor.
Isso traz uma vantagem comparativa sem precedentes, se somados a outros fatores que tentarei aqui discorrer para fundamentar o porquê de estarmos iniciando a fase com maiores oportunidades para ser a mais próspera da cacauicultura Sul baiana.
Antes de adentrarmos nos aspectos que me levam a perceber esse potencial, é necessário pontuar duas questões, primeiro, o diferencial que o Sul da Bahia apresenta em relação às demais regiões produtoras de cacau no Brasil, e segundo o aumento da capacidade de investimento em função do aumento de preços ao produtor.
De forma resumida a Bahia possui a maior área plantada de cacau do país, a melhor infra-estrutura logística, com porto, aeroporto, estradas pavimentadas e vicinais. Concentra também maior competência em termos de pesquisa e serviços tecnológicos. Consequentemente a isso uma maior capacidade de agregação de valor, agroindustrialização, aumento da produção em curto prazo, certificação e integração com o turismo, esse último potencializado pela rica história e cultura (vide a re-edição da novela Renascer).
Em termos gerais o Brasil possui hoje inúmeros fatores que o diferenciam de outros países produtores, e da década de 70 e 80 do século passado, onde a Bahia teve papel de destaque na liderança deste processo, destacando-se o avanço tecnológico na área agronômica, processos de certificação, sustentabilidade e rastreabilidade, agregação de valor e integração ao turismo, que somadas e associados trazem oportunidades que não tínhamos no passado e se tem em outros países nem em outras regiões produtoras do Brasil, que irei discorrer a seguir de forma resumida.


TECNOLOGIA AGRONÔMICA:
O avanço na área genética durante o período de crise vivenciado se deu não só no aspecto da produtividade e tolerância a doenças, mas também em aspectos sensoriais e de aroma visando a produção de chocolate e cacau “fine flavour”. Além disso a região desenvolveu competência em termos de nutrição de plantas e fertilidade do solo que permite que tenhamos hoje produtividades de mais de 2000 kg (132@) por ha de média em algumas fazendas, somadas a outras tecnologias como ventilação forçada, adubação modular, aplicação de nano biofertilizantes e outras tecnologias sendo desenvolvidas.

Figura 1 – Lavoura de Cacau de alta produtividade no município de Gandu.

AGREGAÇÃO DE VALOR:
Temos hoje no Sul da Bahia tecnologia e experiências exitosas nas áreas de produção de cacau fine flavour, chocolate e produção de co-produtos a partir do mel e da polpa de cacau, além de pesquisas sendo desenvolvidas para o aproveitamento da casca do fruto, casca da amêndoa sibira e outros, com um mercado consumidor amplo e com potencial para o desenvolvimento de inúmeros produtos como: vinagre, vinagre balsâmico, carboidratos, chás, molhos diversos, aguardentes.
Na área de chocolate temos hoje agroindústrias de vários tamanhos e escala com inúmeras marcas, algumas inclusive com redes de comercialização própria que utilizam o conceito da amêndoa a barra (bean to bar) e da árvore a barra (tree to bar), quando a agroindústria é na própria fazenda que produz o cacau.
Figura 2 – Chocolate com cacau Sul da Bahia protegido por Indicação Geográfica.

CERTIFICAÇÃO, RASTREABILIDADE E SUSTENTABILIDADE:
Assim como a região de Champagne na França, Parma na Itália, Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul, temos hoje a região Sul da Bahia protegida por Indicação Geográfica para o produto amêndoas de cacau. Experiência de certificação participativa orgânica e de terceira parte. Certificações associadas a responsabilidade sócio-ambiental como Rainforest Alliance, UTZ, e a própria experiência de certificações de empresas compradoras, que nos dão uma vantagem comparativa ao mercado Europeu e Costa Oeste dos Estados Unidos principalmente.
Além do cumprimento de aspectos sociais, temos um modelo de cultivo de cacau no Sul da Bahia que promove a conservação de ativos ambientais como: biodiversidade, carbono, água e solo, sem precedentes no contexto mundial, conhecido como Cacau Cabruca.
Figura 3 – Área de Cacau Cabruca no município de Nova Ibiá.

INTEGRAÇÃO AO TURISMO:
Nesse quesito, apesar de poucas experiências, em geral em municípios que já possuem rede hoteleira e o chamado Turismo de praia e Sol, o nosso potencial é gigantesco, principalmente para imóveis localizados no entorno de rodovias federais e estaduais pavimentadas para as modalidades de Turismo Rural, Ecoturismo e o Turismo de base comunitária, além da chamada produção associada ao turismo, que já acontece de forma mais significativa nos municípios de Ilhéus, Uruçuca (distrito de Serra Grande) e Itacaré (distrito de Taboquinhas). Essa integração além de agregar mais valor aumenta as oportunidades de emprego e renda por possibilitar ampliação na empregabilidade com postos de trabalho na área de turismo, agroindustrialização e artesanato.
Figura 4 – Fazenda de Cacau no município de Uruçuca recebendo Turistas.

Inúmeras outras questões poderiam ser abordadas, inclusive aspectos negativos como pragas quarentenárias, falta de assistência técnica e dívidas, porém acredito que com o aumento da importância do cacau na geração de receitas para os Estados e País, serão mais fáceis de serem resolvidos. Hoje, porém, é dia de comemorar, inclusive as oportunidades que a crise nos legou e que possibilitaram esse novo momento.
No mais fico com as palavras de Apóstolo Paulo: “Quanto ao mais irmãos, tudo que for verdadeiro, tudo que for nobre, tudo que for correto, tudo que for puro, tudo que for amável, tudo que for de boa fama, se há alguma virtude, e se algum louvor nisso pensai, e aquele que viste e ouviste de mim isso fazei”.
Durval Libânio Netto Mello, Professor do Instituto Federal Baiano – Campus Uruçuca – Cacauicultor.

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