GUERRA NA BAHIA: 20 FACÇÕES DISPUTAM O TRÁFICO DE DROGAS E LEVAM MEDO À POPULAÇÃO
.
Pelo menos 20 facções atuam na Bahia e levam medo á população Crédito: Eduardo Bastos/CORREIO
Na década de 90, o maior comércio de drogas que se tinha conhecimento estava no Morro do Águia, sob o comando de Raimundo Alves, o “Ravengar”. Com a prisão dele nos anos 2000, houve a descentralização da venda de entorpecentes, o que possibilitou o surgimento das primeiras “empresas” do ramo na Bahia: as facções Caveira e Comando da Paz.
Apesar de hoje extintas, elas impulsionaram o surgimento de outras organizações criminosas, transformando o estado num cenário de guerra. Atualmente, pelo menos 20 delas atuam no território baiano.
“Essa pulverização do comércio, em que as organizações locais se rearranjam com organizações nacionais, tem sido um grande impulsionador nos conflitos na Bahia, bem como no Nordeste todo. O marco histórico recente foi o fim da paz estabelecida entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) a nível nacional, impulsionou a retomada dos conflitos sangrentos nas cidades e o fortalecimento das milícias”, declara o cofundador e coordenador executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, integrante da rede de Observatórios de Segurança.
Com base nas ocorrências nas regiões, depoimentos de moradores e a gentes da força da segurança, o CORREIO mapeou a área de atuação de facções em alguns municípios. São 20 organizações criminosas espalhadas em 19 cidades. A maioria está em Salvador.
São elas: Bonde do Maluco (BDM), Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP), Katiara, Ordem e Progresso (OP), A Tropa e o Bonde do Ajeita. Estas atuam no mercado varejista e, por isso, protagonizam os conflitos armados e têm ramificações em outras cidades, com exceção do Bonde do Ajeita, até então. Já o Primeiro Comando da Capital (PCC) atua restritamente nas unidades prisionais (leia abaixo).
Criado em 2015, o BDM ainda é maioria: está presente em 13 cidades, três delas com aliança com a carioca TCP (Salvador, Santo Amaro da Purificação e Jacobina). A tropa e o PCC estão em cinco municípios. Já o arquirrival do BDM, o CV atua em quatro cidades, enquanto a OP e Katiara em três.
Já o Primeiro Comando de Eunápolis (PCE) é maioria em dois municípios, assim como a Raio A e Raio B. As demais da lista são: Tropa do KLV, MK4, DMP, Mercado do Povo Atitude (MPA), Campinho (CP), Bonde do Neguinho (BDN), Bonde do SAJ, Honda e a Família do Norte.
O sociólogo Daniel Hirata, do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), concorda com Ribeiro. Ele pontua que a proliferação dessas organizações “não tem uma razão única”.
“Isso pode acontecer porque não se conseguiu costurar alianças suficientes para uma unificação, isso pode ter a ver com a dinâmica anterior, entre ‘os caveiras’ e o Comando da Paz e a forma como isso aconteceu, as disputas internas destes grupos, a chegada de grupos do Sudeste. Então, tem um conjunto de fatores que são muitos conjunturais que dependem muitos das relações pessoais entre as lideranças”, declara.
O aspecto social é lembrado pelo pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos/ Ufba) e professor da Universidade Federal da Bahia, Luiz Cláudio Lourenço. Ele destaca a “vulnerabilidade econômica das periferias”.
“Hoje temos cada vez mais jovens inseridos nesse mundo, devido à diminuição da disponibilidade de esporte, educação, emprego e renda. Isso faz o recrutamento da mão-de-obra para trabalhar para o tráfico. A gente vive essa situação há pelo menos 15 anos”, diz ele.
CONFLITOS
Em Salvador, os confrontos de mais evidência estão entre o CV e o BDM. Episódios recentes dão a dimensão dessa guerra. Por três dias consecutivos do mês de junho deste ano, os moradores do Arenoso e Tancredo Neves viveram momentos de terror, com madrugadas intensas de troca de tiros. Casas, carros, estabelecimentos comerciais ficaram crivados de balas.
De acordo com fontes da polícia, o BDM sofreu ataques do CV, que quer tomar a região. Em um dos confrontos, uma mulher foi assassinada. Elidalva Cerqueira da Conceição foi retirada de casa e baleada diversas vezes na Rua Gabriel Monteiro de Castro. Segundo moradores, a vítima havia postado um vídeo provocando integrantes do CV.
Não à toa, o bairro de Tancredo Neves foi o que registrou o maior número de mortes causadas por tiroteios em Salvador no ano de 2023. Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que 53 conflitos com arma de fogo ocorreram na região, com 40 mortos e 12 feridos.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, 22 escolas ficaram fechadas um ou dois dias por causa dos tiroteios, causando o prejuízo a mais de 7 mil alunos, entre fevereiro e 29 de maio deste ano.
Só a Escola Municipal Laura Sales de Almeida, em Vila Verde, ficou 25 dias sem funcionar por causa dos ataques do BDM ao CV. Também por causa desse conflito, Escola Estadual Raul Sá, em Mussurunga I, acabou com as aulas noturnas há mais de um ano, problema denunciado com exclusividade do CORREIO.
Das 19 listadas, 13 cidades têm atuação do Bonde do Maluco Crédito: Eduardo Bastos/CORREIO
PARA CONTINUAR LENDO A MATÉRIA CLICAR AQUI!
DE ACORDO COM O ALTAS DA VIOLÊNCIA, LANÇADO NO ÚLTIMO DIA 18, SALVADOR ENCABEÇA A LISTA DAS CAPITAIS COM MAIOR ÍNDICE DE HOMICÍDIOS NO BRASIL EM 2022
DENTRE OS 20 MUNICÍPIOS MAIS VIOLENTOS DO BRASIL, ONZE ESTÃO NA BAHIA
PCC
Na Bahia, o PCC atua nas unidades prisionais Crédito: Eduardo Bastos/CORREIO
O PCC MANTÉM SUA ATUAÇÃO NAS UNIDADES PRISIONAIS DE SALVADOR, FEIRA DE SANTANA, ITABUNA, TEIXEIRA DE FREITAS E EUNÁPOLIS
LISTA DAS CIDADES E SUAS FACÇÕES
Salvador:
Lauro de Freitas:
Camaçari:
Dias d’Ávila:
Candeias:
Simões Filho:
Feira de Santana:
Itabuna:
Teixeira de Freitas:
Eunápolis:
Santo Amaro da Purificação:
Jacobina:
Saubara:
Porto Seguro:
Vitória da Conquista:
Santo Antônio de Jesus:
Juazeiro:
Mata de São João:
Jequié:
(Fonte: https://www.correio24horas.com.br)
.
Comentários estão fechados.