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PRODUTORES DO PARÁ INVESTEM EM CACAU FINO E NO TIPO COMMODITY

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José Renato e a esposa Verônica produzem por ano seis toneladas de cacau Eliane Silva


O descendente de alemães José Renato Preuss e o paraense Igor Michael Bonne Rodrigues são cacauicultores do município de Brasil Novo, situado às margens da Rodovia Transamazônica.
Eles ocupam lotes originalmente de 100 hectares que foram cedidos pelo governo a assentados na década de 1970.
As semelhanças param aí. Enquanto Preuss fermenta suas amêndoas para produzir cacau fino e investe na verticalização da produção, Rodrigues se dedica ao plantio de clones e aposta na irrigação para elevar a produtividade de seu cacau vendido como commodity.
A história de Preuss com o cacau começou quando ele e a esposa Verônica trocaram Santa Catarina pelo Pará, em 2000, para assumir metade das terras compradas pelo pai dele.
O produtor conta que, na época, as estradas eram todas de chão batido e só havia escola de ensino básico no município. O asfalto, no trecho entre Marabá e Medicilândia, passando por Brasil Novo, só foi implantado de 2016 a 2020.
“Antes, a gente sempre ficava ilhado na propriedade no inverno chuvoso amazônico”, recorda.
Quando chegaram ao Pará, o cacau já dominava os plantios na região. O casal plantou os primeiros 5.000 pés de cacau em 2008, no meio de ipês, mogno e outras árvores numa área de pasto degradado usada pela pecuária de corte.


Eles conciliavam a lavoura com as funções de professor e diretora da escola que ajudaram a formar no município e depois com o trabalho na usina hidrelétrica de Belo Monte.
Mesmo com uma dedicação de meio período, os Preuss já investiam na fermentação em coxo das amêndoas (“os vizinhos nos chamavam de loucos”), na busca por um cacau de melhor qualidade.
A dedicação exclusiva à lavoura só veio em 2021, quando eles plantaram mais 3.000 pés de cacau varietal em sistema agroflorestal (SAF), sempre com adubação natural (cama de frango).
“Quando chegamos, a gente não tinha noção do que era o cultivo do cacau, mas fomos aprendendo a colher apenas os frutos maduros, fermentar as amêndoas selecionadas durante sete dias em cochos de madeira, revirando tudo três vezes por dia, e fazer a secagem em barcaça sob o sol por 12 dias”, conta o agricultor, ressaltando que as amêndoas têm sua temperatura monitoradas várias vezes ao dia, chegando ao pico de 48 graus no quarto dia.
Tudo que acontece com cada lote é anotado em uma planilha alimentada por Preuss, para comparação posterior dos resultados.

O Estado do Pará é o maior produtor de cacau do país — Foto: Eliane Silva


Com o manejo cuidadoso, conseguiram amêndoas de mais qualidade que eram disputadas pelos atravessadores e acabaram chamando a atenção da indústria. A Barry Callebaut passou a comprar a produção pagando um bônus pela qualidade.
QUALIFICAÇÃO
Em 2020, Verônica fez o primeiro curso de chocolatemaker, descobriu a mélanger (equipamento que mói, mistura e faz a conchagem do chocolate) e focou na verticalização do cacau.
Um ano depois, instalou uma minifábrica na fazenda e lançou seu chocolate bean to bar (da semente à barra) com a marca Kakao Blumenn, que significa flor do cacau em alemão.
No mesmo ano, a amêndoa produzida pelos Preuss foi premiada em um concurso nacional de qualidade pelo Centro de inovação do Cacau (CIC).
Hoje, o casal cultiva 8.000 pés de cacau blend e 2.000 pés de varietal. A produção por safra é de cerca de 6 toneladas, sendo de 70% a 80% cacau fino, que é usado na fabricação do chocolate próprio e também é vendido para chocolatiers de todo o país. O restante vai para Barry Callebaut, de Ilhéus, que paga 50% a mais por quilo.
A produtividade da lavoura dos Preuss ainda é bem baixa, inferior a 600 gramas por árvore, mas a meta é chegar a 2,5 kg por planta em 2028 e colher 25 toneladas.
PRODUTIVIDADE
“Eu nasci no cacau. Meu avô veio do Espírito Santo para o Pará em 1972. Meu pai não quis mexer com cacau, mas eu e meus irmãos herdamos a terra do avô e estamos investindo para aumentar a produtividade”, diz Igor Bonne Rodrigues, de 31 anos.
A produtividade atual das 80 mil plantas do sítio é de 1,6 kg por árvore no cacau seminal e 3 kg no tipo enxertado. A meta é chegar à média de 5 kg por planta nos próximos anos.

Igor Bonne Rodrigues investiu na irrigação de uma área de 20 hectares — Foto: Eliane Silva


Para isso, o agricultor, que terminou o ensino médio e fez cursos de capacitação para o plantio de cacau, investiu para irrigar uma área de plantio novo de 20 hectares, sendo um dos primeiros da região a adotar essa tecnologia.
“Tenho uma roça de 5 hectares plantada há 40 anos que preciso renovar. Acho que o caminho para ser mais produtivo é renovar sempre a lavoura, trocando os híbridos pelos clones. Não penso em produzir chocolate. Meu negócio é vender cacau commodity mesmo.”
As amêndoas de Rodrigues só fermentam no saco e passam de 4 a 6 dias na estufa para secagem. Seu plantio em linha é consorciado com algumas árvores de citros e mangueiras, mas o produtor diz que a parceria não tem sido produtiva e não deve ser replicada em outras áreas.
VIVEIRO
Questionado sobre a sustentabilidade de seu plantio, que recebe muitos defensivos químicos e adubação só nas áreas de alta produtividade, o produtor diz que o cacau já é uma cultura sustentável e a região de Altamira “foi feita para plantar cacau”, numa alusão ao fato de o cacau ser nativo da Amazônia.
Além da lavoura, Rodrigues mantém um viveiro com 250 mil mudas de cacau para diversificar a renda. Atualmente, a venda das mudas responde por 30% do faturamento da propriedade.


MAIOR PRODUTOR
O Pará é o maior produtor de cacau do país, tendo ultrapassado a Bahia em 2019. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responde por 50,68% da produção nacional.
Na safra 2022, o Estado colheu 233 mil toneladas de amêndoas, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
A expansão de cultivo nativo para o de escala foi rápida: em 2010, por exemplo, o Pará colheu apenas 67 mil toneladas.
A verticalização também tem avançado rapidamente, com a criação de dezenas de marcas de chocolates, mas cerca de 80% da produção ainda vai para as indústrias moageiras de Ilhéus (BA), via atravessadores. (Fonte: https://globorural.globo.com)

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